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Quando as práticas tradicionais dão origem a um comportamento criminal: Uma análise sobre o caso da Muinha

  • Foto do escritor: Herman Manuel
    Herman Manuel
  • 21 de mar. de 2024
  • 2 min de leitura


Recentemente tivemos a notícia, que entre os finais de dezembro de 2023 a fevereiro de 2024, mais de quarenta e cinco pessoas morreram na comuna da Muinha, no município de Camacupa, província do Bié, depois de serem obrigadas a ingerir um líquido feito à base de ervas, denominado “Mbulungo”, para provar se tinham cometido ou não determinado crime, “geralmente por feitiçaria”.


Estes eventos são um lembrete sombrio da poderosa influência das crenças culturais e práticas tradicionais no comportamento humano. Para o efeito, julga-se ser imperativo analisar as complexidades subjacentes que moldam tais eventos trágicos.


A comunidade da Muinha, tal como muitas outras, é regida por normas sociais profundamente enraizadas que definem o comportamento aceitável e inaceitável. O que é considerado desviante em um contexto pode ser visto como um cumprimento do dever em outro. Determinadas práticas de culturais, embora possa ser interpretada como criminosa sob a lei moderna, no contexto tradicional tem sido aceita e perpetuada ao longo de gerações.

No caso da Muinha, a prática de envenenamento, sob o pretexto de expurgar o mal ou provar a inocência, é um exemplo de como a cultura pode ser usada para justificar actos que resultam em danos graves ou morte.


Existe um conflito palpável entre as leis estabelecidas pelo estado e as práticas tradicionais. Este conflito é evidente na resistência da comunidade em abandonar o uso do “Mbulungo”, apesar das consequências fatais.


Infelizmente, a resistência à mudança é um fenômeno comum em muitas culturas. No entanto, a adaptação cultural é necessária para alinhar as práticas tradicionais com os direitos humanos e as leis civis contemporâneas. A educação desempenha um papel vital neste processo, ajudando a comunidade a entender as implicações de suas ações e a adotar métodos de resolução de conflitos mais seguros e justos.


Como parte de um esforço preventivo, programas de educação e conscientização podem ser implementados para ensinar sobre os perigos de práticas prejudiciais e promover alternativas baseadas na justiça e na evidência.


Finalmente, é essencial refletir sobre as práticas culturais à luz da ética e dos direitos humanos. Daí que o presente texto não apenas destaca a complexidade do comportamento humano influenciado por crenças culturais, mas também sublinha a importância de uma abordagem holística e empática na prevenção do crime e na promoção da justiça social. É um chamado à ação para psicólogos criminais, legisladores, educadores e líderes comunitários para trabalhar juntos na construção de uma sociedade mais segura e justa.


Com respeito,

Herman Manuel

Psicólogo Clínico e Forense


 
 
 

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